PALESTRANTES
III CIPS - Sons do fim do mundo
ANA MARIA OCHOA
LUIS-CARCAMO HUECHANTE
UFF - NITERÓI (RJ)
Ana María Ochoa (Tulane University, EUA) é professora do Departamento de Música de Newcomb, do Departamento de Comunicação e do Departamento de Espanhol e Português. Seu trabalho é sobre histórias da escuta e do decolonial, sobre estudos sonoros e mudanças climáticas, e sobre a relação entre as indústrias criativas, o literário e o sonoro na América Latina e no Caribe. Seus projetos atuais exploram a bioacústica da vida e da morte nas histórias coloniais das Américas e a relação entre som, mudança climática e o colonial. Distinguished Greenleaf Scholar in Residence pela Tulane University (2016) e Guggenheim Fellow (2007-2008). Ela atuou nos conselhos consultivos da Society for Cultural Anthropology e do Smithsonian Center for Folklife and Cultural Heritage. Seu livro Aurality, Listening and Knowledge in Nineteenth-Century Colombia (Duke University Press, 2014) recebeu o Prêmio Alan Merriam da Society for Ethnomusicology. Ela também é autora de Músicas locales en tiempos de globalization (Buenos Aires: Norma 2003) e Entre los Deseos y los Derechos: A Critical Essay on Cultural Policies (Bogotá: Ministerio de Cultura, 2003) e numerosos artigos em espanhol e inglês.
RESUMO DA PALESTRA PARA A III CIPS:
Cosmopolítica e design de som
Este texto centra-se no enquadramento que se tece entre os mundos que acabam e os que emergem, entre o que se desfaz e se reconstitui. O trabalho situa-se politicamente no potencial que se abre antes do fim da concepção humanista do homem e da música como produto exclusivamente humano e propõe o sound design como um conceito que permite explorar uma cosmopolítica do que é mais do que humano. Derivada do desenvolvimento industrial, a noção de design foi atualizada a partir da questão das políticas de vida (Arturo Escobar) e de pensar o enquadramento dos seres vivos como infraestrutura (Ailton Krenak). O que significa pensar a relação escuta-sonoridade a partir do fim do humanismo moderno que buscava encerrar os sons em um conceito exclusivo de música, e através da ideia de sound design em meio a um futuro mais presente do que além?
Este ensaio situa o som como uma tecnologia intensamente mobilizada entre a cosmopolítica da vida e da morte, seja com os rituais sonoros que alguns povos utilizam para se comunicar e atualizar a relação com seus mortos e seus outros, ou, em de forma contrastante, com o desenvolvimento da música como arte pública cuja multiplicidade é amplificada nos relatos íntimos do alvorecer do século XXI ao mesmo tempo que é mobilizada no design pós-industrial de armas sonoras. No ensaio exploro o potencial e a plasticidade do som como forma que precisa ser ativada por uma entidade que cause sua atualização e que, uma vez atualizada como som, sua plasticidade é potencializada para compor e decompor, provocando a própria transmutação do sentido da morte e da vida. Eu preparo este artigo por meio de pesquisa arquivística e etnográfica que investiga algumas das práticas que fazem parte da longa morte sonora planetária do humanismo civilizador extrativista e guerreiro e também explora a estrutura do sempre emergente redesenho dos sons como uma política da vida entrelaçada entre seres diferentes. O som surge como uma entidade capaz de ser constantemente atualizada para destruir ou para constituir, noite após noite, as texturas em que múltiplas entidades se envolvem e se afetam, incluindo a própria matéria do planeta.
Luis E. Cárcamo-Huechante é um pesquisador mapuche. Atualmente, é o Diretor do Programa de Estudos Indígenas e Nativo-Americanos (NAIS) e Professor Associado de Espanhol na Universidade do Texas de Austin. Entre 2019 e este ano, trabalhou como membro do Conselho da Associação de Estudos Indígenas e Nativo-Americanos (NAISA). O Professor Cárcamo-Huechante é membro fundador da Comunidade de História Mapuche, que é um coletivo de pesquisadores/ativistas mapuche sediado no sul do Chile. Em 2007, ele publicou seu primeiro livro, Tramas do mercado: imaginação econômica, cultura pública e literatura no Chile do fim do século XX (Santiago: Editorial Cuarto Próprio, tradução livre). Hoje, o Professor Cárcamo-Huechatne está completando seu segundo livro, intitulado Interferências Mapuche: Colonialismo Acústico e Resposta Indígena (tradução livre), que analisa textos literários, programas de rádio e música para discutir questões indígenas, de linguagem e som em relação ao que ele denomina “colonialismo acústico”.
RESUMO DA PALESTRA PARA A III CIPS:
Atos (des)colonizadores: do “índio” personificado às vozes Mapuche na paisagem midiática
No Chile e na América Latina, durante a primeira metade do século XX, a mídia baseada na escrita (literatura, jornais) começou a coabitar com outra tecnologia de comunicação sonoramente poderosa, a saber, o rádio. Nesta apresentação, discutirei, por um lado, como o sujeito indígena é “dublado” pelas rádios dos colonos no Chile. Discuto especificamente a personificação radiofônica e musical de um personagem “Mapuche”, o Indio Pije (Indian Snob) pelo ator e comediante criollo chileno Ernesto Ruiz. Argumento que a substituição da voz e do corpo indígena pela representação radiofônica e musical dos Mapuches feita por Ruiz é uma continuação da política colonial chilena de mediação e desfiguração. Por outro lado, encerrarei minha apresentação oferecendo uma amostra das formas como os Mapuches posicionaram suas próprias vozes nas ondas do rádio no final do século XX, como contracorrente às práticas radiofônicas de desfiguração dos Mapuches e como formas de interferir com as ondas do que chamo de “colonialismo acústico”.
PRÉ-CONFERÊNCIA
UFES - VITÓRIA (ES)
MARCO SCARASSATTI
Marco Scarassatti é artista sonoro, improvisador e compositor. Professor de composição da Escola de Música da UFMG, é autor do livro Walter Smetak, o alquimista dos sons (editora Perspectiva / SESC, 2008) e desenvolve pesquisa e construção de esculturas e instalações sonoras, além de gravações de campo. Atualmente coordena o curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas, FIEI FaE UFMG.
Em 2013 lançou o álbum Rios enclausurados, a partir de sua pesquisa com os sons dos rios canalizados de Belo Horizonte. E em 2021 foi artista convidado, e comissionado pelo Festival CULTUREESCAPES 2021 Amazonia, a criar a instalação MataBio, durante os meses de agosto à outubro. A instalação foi exposta no Theatre Chur e no Museu Tinguely, em Basel.
Em seu último trabalho, Ni yuxibū xinã rewe (2023) dialoga com o mestre de cantos do povo Huni Kuin, Ibã Sales, criando o envolvimento espacial para os cantos do espírito da floresta.